Adriana Abreu Lopes |
Um dado alarmante em pesquisa em Ciência de Informação em
2011 revela que 72,4% dos autores só escreveram um único trabalho e provavelmente
não escreveram mais. “O fato de usarem como requisito a publicação de um
trabalho para obtenção do Mestrado ou Doutorado corrobora com esse resultado”,
explica Adriana Abreu Lopes, bibliotecária que conduziu a pesquisa. Formada em
Biblioteconomia pela PUC de Campinas em 2001, Adriana ingressou na pós-gradução
em Gestão de Sistemas e Serviços de Informação da FESPSP de Adriana Abreu Lopes,
onde desenvolveu seu TCC na área de bibliometria: Panorama das revistas científicas na área de Ciência da Informação no Brasil, com orientação da Professora Maria Imaculada Cardoso Sampaio. Na entrevista abaixo,
gentilmente concedida por email. Adriana explica outros resultados muito relevantes
sobre as publicações científicas na área de Ciência de Informação:
MC: Por que o interesse em Gestão de Sistemas e Serviços de
Informação?
ADRIANA: Passei por alguns estágios sempre em Centro de
Documentação até que iniciei no CEDOC da empresa Dixtal Biomédica que hoje
pertence a Philips do Brasil (1999 – atual).
Após a faculdade fiz vários cursos em Gestão de Projetos,
Documentação Eletrônica, Marcas e Patentes, Sistema de Qualidade, Boas Práticas
de Fabricação, Marcação CE,... todos os cursos realizados sempre com foco e
voltado para o negócio da empresa e para a construção do CEDOC.
Em 2010 resolvi fazer a Pós em Gestão de Sistemas e Serviços
de Informação e ao pesquisar os cursos disponíveis encontrei o da FESPSP. Achei o currículo interessante e acessível .
MC Como você chegou ao tema da sua pesquisa? Por
quê escolheu esse tema de bibliometria?
ADRIANA:
Durante o curso de GSI, na disciplina de Produtos e Serviços ministrada pela
Profa. Maria Imaculada houve muitas referências à Bibliometria, devido as suas
pesquisas nessa área e o frequente uso desses dados na Biblioteca de Psicologia
da USP na qual trabalha.
Quando
foi pedido para fazermos um artigo para fechamento da disciplina a ideia de
fazer um estudo bibliométrico apareceu de imediato e resolvi fazer um estudo
das 4 principais revistas da área de Ciência da Informação do estado de SP.
Depois
disso, ao ser questionada sobre qual seria o tema do TCC, resolvi ampliar esse
tema para as revistas cientificas da área de CI do país.
Durante
as pesquisas preliminares verifiquei que esse estudo seria inédito e isso me
motivou a seguir por esse caminho.
MC: Como foi o seu planejamento? Quais fontes de informação
você usou?
ADRIANA: Usei toda a base do trabalho que já havia feito
para a disciplina da Profa. Imaculada e toda a literatura levantada que
contextualizava a bibliometria e alguns artigos que tratavam de pesquisas
similares.
O primeiro passo foi mapear quais eram as revistas
eletrônicas vigentes e suas casas publicadoras. Cheguei à base BRAPCI de onde
comecei esse mapeamento e o inicio da caracterização das revistas.
O segundo passo foi mapear quais eram as instituições de
ensino brasileiras que possuíam cursos em Ciência da Informação.
O terceiro passo foi o inicio da coleta dos dados revista
por revista.
MC: Como foi a coleta de dados? Quais base de dados e
softwares você utilizou?
ADRIANA: A coleta de dados foi a etapa que mais tomou tempo
e demandou trabalho.
Os dados foram extraídos do site de cada revista, pois os
dados da BRAPCI em alguns casos não apresentavam dados consistentes, então usei
o repositório da própria casa publicadora para validar os dados.
Todas as informações coletadas (autoria, titulação,
institucional e tipos de publicação), foram inseridas em uma planilha. Não
utilizei nenhum software específico para bibliometria. Conforme os dados foram
aumentando, fui incluindo configurações avançadas e macros.
Outro ponto importante e que gerou dificuldades foi a
identificação correta do nome dos autores, pois em vários momentos o mesmo
autor assinava de uma maneira diferente. A plataforma Lattes foi muita
utilizada para tentar elucidar esses casos.
A coleta de dados levou praticamente 6 meses e com isso
adiei a entrega do TCC, pois o trabalho ganhou dimensões incríveis.
MC: Quais as suas principais dificuldades?
ADRIANA: Durante a coleta de dados, encontrei dificuldade na
validação de dados de autoria, na falta da padronização das revistas
eletrônicas, mesmo todas possuindo normas, no geral, não seguem padrões.
Com o aumento dos dados a planilha tornou-se um “monstro”,
muito difícil de manipular.
E claro, o tempo disponível para fazer a pesquisa foi um
fator determinante para mudar alguns rumos da pesquisa.
MC: Comente sobre sua conclusão em relação à porcentagem de
autores que publicam uma vez e nunca mais publicam nenhum artigo.
ADRIANA: Esses são os principais dados extraídos da
pesquisa:
- Existem 39 Instituições de ensino acadêmico em Ciência da Informação.
- A pesquisa levantou 5452 trabalhos publicados e distribuídos em 23 revistas vigentes.
- 3674 da produção são compostos por artigos.
- Desse montante, levantei 3012 autores, dos quais 2180 publicaram uma única vez.
- Somente 196 autores publicaram 5 ou + de 5 trabalhos e esses estão, na sua maioria, atuando na vida acadêmica.
- 1255 autores possuem Doutorado e 825 Mestrado.
- 582 citações de Instituições, entre públicas e privadas, das quais 46 foram citadas 10 ou + vezes, sendo que 67% são públicas e 29 instituições estão geograficamente inseridas na região Sul e Sudeste (ênfase no estado de SP e RJ)
MC: Quais outras conclusões você destacaria?
ADRIANA: É possível
destacar que a publicação dos trabalhos científicos está na mão de poucos
autores que são os formadores de opinião da área da Ciência da Informação, que
estão na vida acadêmica e que em muitos casos são orientadores ou participam da
avaliação entre pares de novos trabalhos que são submetidos nas revistas.
Além de contar com grande prestigio acadêmico, esses autores
conseguem alavancar o nome da instituição a qual pertencem, bem como atrair
investimentos e recursos de instituições de financiamento, como a FAPESP.
Outro dado importante é que 72,4% dos autores só escreveram
um único trabalho e provavelmente não escreveram mais. O fato de usarem como
requisito a publicação de um trabalho para obtenção do Mestrado ou Doutorado
corrobora com esse resultado.
A grande maioria das revistas estão sediadas na região Sul e
Sudeste e 19 delas são da iniciativa pública.
As maiores revistas em volume de produção são aquelas que
possuem maior conceito Qualis/CAPES e estão sediadas no eixo Sul/Sudeste.
“A pesquisa mostrou o que de início se suspeitava: a produção cientifica no Brasil está localizada nas mãos de poucos autores que são a elite na área. “
A concentração geográfica das revistas e dos autores está
conectada fortemente com as principais instituições de ensino em Ciência da
Informação.
O eixo RJ e SP ainda é o mais forte em produção cientifica,
por ser o mais forte em poder econômico e político.
Uma agradável exceção foi a UFPB, que vem se destacando com
3 revistas e que começa a absorver os trabalhos da região norte e nordeste,
ainda carente em publicações.
MC: Qual o impacto da sua pesquisa no seu trabalho?
ADRIANA: Impacto direto
não houve, mas indiretamente esse estudo mostra que conhecer a produção
cientifica da área pode abrir espaço para melhores serviços, produtos ou até
mesmo a construção de políticas para captação de recursos, na imagem da
instituição, enfim, inúmeras possibilidades para o crescimento e
desenvolvimento da instituição.
A bibliometria mostra que a medição traz dados substanciais
para a tomada de decisão, basta nós usarmos esses dados para a melhoria contínua
dentro do nosso trabalho.
MC: Quais as suas perspectivas para outras pesquisas,
relacionadas ao tema ou não?
ADRIANA: Talvez aprofunde
um pouco mais nos dados extraídos desse estudo, pois sinto que ainda é possível
filtrar e tirar mais conclusões em um nível detalhado.
A Bibliometria é um tema que gosto muito e, quem sabe, gere
um futuro mestrado, por enquanto estou avaliando essa questão.
No momento, as minhas medições são para o CEDOC em que
trabalho, avaliando o fluxo das revisões de documentos gerados no setor que
atuo. A bibliometria é um campo muito vasto...
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