Pular para o conteúdo principal

Bibliotecário em ação política: Rodolfo Targino



Rodolfo Targino

Rodolfo Targino, bibliotecário formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) é editor adjunto da revista Biblioo e um dos nomes mais atuantes da área. Polivalente, tem um curriculum sólido, e como mestrando da Universidade Federal Fluminense (UFF) movimenta ainda mais o cenário brasileiro de profissionais da informação. Nesta entrevista gentilmente cedida por email, a MC explora um pouco de sua visão humanista e dinâmica:








MC: Um breve histórico da sua formação e trajetória profissional.

RODOLFO TARGINO: Minha vida acadêmica se inicia no pré-vestibular comunitário, Oficina do Saber, da Universidade Federal Fluminense (UFF) no ano de 2006, quando fiz a preparação para prestar o vestibular. Em 2007, inicio o bacharelado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). 

Durante a graduação tive a oportunidade de participar de projetos de monitoria (“Organização do Conhecimento”, com a professora Ludmila Guimarães) e de iniciação científica (no projeto de pesquisa “Bibliotecas como prática de Responsabilidade Social”, com a professora Elisa Machado). Ambos os projetos são do Departamento de Estudos e Processos Biblioteconômicos da Escola de Biblioteconomia da UNIRIO e contribuíram muito para a minha formação. 

Rodolfo Targino em visita à Estação da Luz, em SP
Tive a oportunidade de estagiar em duas instituições públicas. O primeiro foi na biblioteca do Centro de Educação e Humanidades da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), campus São Gonçalo, onde estagiei aproximadamente oito meses. O segundo estágio foi na Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Fundação Biblioteca Nacional, onde estagiei por dois anos. Como cursei teoria musical e estudei violão clássico desde pequeno, consegui aplicar o conhecimento em música e aprender na prática as teorias da Biblioteconomia. Esse estágio contribuiu muito para minha formação.

Também participei de forma efetiva do movimento estudantil de Biblioteconomia. Participando da gestão 2008-2009 do diretório acadêmico Mário Ferreira da Luz da UNIRIO e da gestão 2009-2010 da Executiva Nacional dos estudantes de Biblioteconomia. 

Sempre participei dos encontros estudantis da área em diversas universidades do país, com apresentação de trabalhos e relatos de experiência. Além de organizar eventos estudantis, dentre eles o XXII Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da Informação e Gestão da Informação (ENEBD) e a III Semana de Integração Acadêmica dos Estudantes de Biblioteconomia da UNIRIO.

Em 2011 conclui a graduação e em 2013 fui aprovado na seleção do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFF.

MC: Como você começou seu trabalho com a Revista Biblioo?

RODOLFO TARGINO: A ideia de criar a Revista Biblioo surgiu no final do ano de 2010 por um grupo de estudantes de Biblioteconomia da UNIRIO, mas só se materializou em 2011, quando foi publicada a primeira edição. No formato inicial da revista eu era responsável pela coluna “atitude” que explorava relatar iniciativas e projetos sociais voltados para a questão da leitura. No formato atual sou editor-adjunto da revista. 

MC: Qual a curadoria editorial da revista? Quais os objetivos?

RODOLFO TARGINO: Atualmente a Revista Biblioo é formada pela seguinte configuração: Chico de Paula (editor-chefe), Emilia Sandrinelli (Editora-executiva), Hanna Gleydz (Editora de Criação) e Rodolfo Targino (Editor-Adjunto). Temos ainda duas revisoras, a Isis Brum e a Vanessa Souza, os colaboradores fixos Thiago Cirne e Adriano da Silva, os colunistas Anthony Lessa (Agulha), Claudio Rodrigues, Jonathas Carvalho, Soraia Magalhães, Moreno Barros e o chargista Aldo Henrique. 

“Os nossos objetivos estão pautados em uma visão humanista com a missão de possibilitar uma troca de experiências e o compartilhamento de informações gerado para além do espaço acadêmico, especialmente aqueles envolvidos com a Cultura Informacional, com destaque para as experiências que estejam ligadas à prática da leitura e às bibliotecas enquanto espaço de resistência.”
 
MC: Ela preenche um nicho carente: informação sobre a área, sem ter um caráter acadêmico. Qual a repercussão, em geral, dos artigos entre os profissionais da informação?

RODOLFO TARGINO: A repercussão é bastante positiva. Estamos recebendo uma demanda significativa de artigos de profissionais da informação de diversas regiões do país para a publicação na revista. Acredito que o formato da publicação, com uma linguagem mais solta e com um padrão mais flexível acaba tendo uma aceitação maior pelos profissionais. Porque, de certa forma, abarca com mais facilidade assuntos e questões que envolvem as atividades cotidianas dos profissionais da informação. 

Para quem tiver interesse em publicar algo na Revista Biblioo, fique atento as nossas diretrizes de publicação (http://biblioo.info/participe/). Temos também o nosso boletim informativo, basta assinar para receber as novidades diretamente por e-mail. 

Temos notícias que os textos publicados pela Biblioo estão sendo utilizados em sala de aula para deflagrar discussões. Isso é muito bom, pois como a maioria dos textos são opinativos, eles acabam dando brecha para o embate de ideias. O que nós queremos é a discussão. Por outro lado, esses textos podem ensejar perseguições, como foi o caso do editor Chico de Paula, que sofreu um processo disciplinar por parte do CRB7 em virtude de um editorial, de autoria dele, e de uma charge, nas quais os conselheiros enxergaram ofensas à classe. Quando da citação, o Chico argumentou pelos visíveis erros do processo, uma vez que ele estava sendo processado como bibliotecário, sendo que a função dele é de editor. Além disso, ele apontou em seu argumento a questão da liberdade de expressão, que está consagrada em nossa Constituição. Os Conselheiros se mostraram insensíveis aos apelos e acabaram o processando por unanimidade. Nesse momento, o processo se encontra na fase de recurso junto ao CFB em Brasília e temos esperança de que o quadro seja revertido. Mas advertimos que se isso não acontecer, apelaremos para a justiça comum, que é para onde o caso originalmente deveria ter sido remetido. O bom de toda essa situação é que contribuímos para uma discussão, o qual a classe não estava disposta a fazer. Além disso, angariamos a simpatia da classe para com o nosso trabalho, além de algumas desavenças, é claro.

MC: Como você avalia a formação desse profissional hoje, nos cursos de graduação?

RODOLFO TARGINO: A educação brasileira de uma maneira em geral sofre com os cortes em seus orçamentos ao longo da história. As universidades públicas, os professores e alunos estão dentro dessa lógica e sentem o reflexo dessas medidas. Atualmente, vejo que a formação dos bibliotecários está mais voltada para atender as demandas do mercado e dos concursos públicos. Mesmo com as recentes mudanças nos projetos político-pedagógico de alguns cursos de Biblioteconomia no Brasil, percebo a ausência de disciplinas com um cunho mais humanista e social no currículo das graduações. Em alguns casos, essas disciplinas, quando aparecem nas matrizes curriculares dos cursos de graduação, estão soltas e desconectadas, ou então colocadas como disciplinas optativas. 

Sinto a necessidade de termos de forma mais efetiva na grade curricular disciplinas que venham abarcar de forma mais completa a história das bibliotecas públicas no Brasil, possibilitando ao graduando visualizar e refletir a respeito de como as bibliotecas públicas estão inseridas no contexto histórico brasileiro. No meu entendimento, questões como bibliotecas escolares, públicas e comunitárias não podem continuar desconectadas e jogadas a um segundo plano na formação.

Evidentemente que uma formação não deve contemplar somente os pontos supracitados, mas no meu ponto de vista deve existir um equilíbrio para que a matriz curricular não fique atendendo somente a certos modismos e apagando o objeto principal da área, que é a cultura e acesso a todos.

MC: Na sua trajetória, o que você fez que poderia ter sido evitado ou feito diferente, caso tivesse tido o conhecimento necessário na época?

RODOLFO TARGINO: Talvez algumas decisões em relação à atuação no movimento estudantil em Biblioteconomia poderiam ter sido contornadas de forma mais simples.

MC: O seu engajamento político é inspirador. Você sente o eco de sua fala política entre seus colegas?

RODOLFO TARGINO: Considero a área de Biblioteconomia bastante conservadora em relação à discussão de alguns assuntos, principalmente à questões que envolvem a representatividade de classe. Ultimamente, as discussões estão cristalizadas e os assuntos abordados são sempre os mesmos: cobranças de taxas e anuidades. Os órgãos de representatividade agregam e divulgam suas ações para a classe de forma muito tímida ainda. 

“Você entra na universidade e só vai saber o que é um Conselho ou um Sindicato depois que você se formar ou quando chega na sua caixa de correio a cobrança de anuidade. A conscientização de classe precisa ser reforçada, os conselhos e sindicatos precisam dialogar com os futuros profissionais e nem estão fazendo o trabalho de base. “

Sinto o eco da minha fala e consigo ter um diálogo em iniciativas individuais na área. Tenho uma discussão mais sólida com os amigos que trabalham comigo na Revista Biblioo e com movimentos sociais na qual participo. Acredito que a consciência de classe na nossa área está surgindo através de iniciativas individuais ou de pequenos grupos, como é o caso do Movimento Abre Biblioteca em Manaus/AM. Também tenho muitas expectativas e esperanças com a recente criação da Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), sendo uma força para somar e contribuir de forma significativa para os assuntos que envolvem os profissionais da informação. 

MC: Suas perspectivas para a área de Ciência da Informação x público leigo. Com se dará essa relação em 5 anos?

RODOLFO TARGINO: Existem muitas discussões a respeito da falta de conhecimento e reconhecimento dos profissionais da informação por parte da sociedade. Na área de Biblioteconomia não é diferente, a figura do bibliotecário ainda é desconhecida por parte da sociedade brasileira. Evidente que essa invisibilidade envolve diversos fatores que nem sempre estão ao alcance dos profissionais. Acredito que a relação com o público leigo e com a sociedade de uma forma em geral pode mudar a partir do momento que a classe começar a ocupar alguns espaços de forma mais crítica e efetiva, como por exemplo, as políticas públicas para bibliotecas, os programas e verbas de leitura, acesso à informação, educação e cultura, entre outros. Atualmente a figura dos bibliotecários nesses espaços ainda é tímida. Falar sobre o futuro é sempre um pouco complicado, mas acredito que nos próximos cinco anos algumas iniciativas podem potencializar a relação com o público leigo. A Lei da Biblioteca Escolar (12.244/10), apesar de muito pouco ter sido feito por parte do poder público nesses três anos, pode contribuir para ter a figura do bibliotecário no início da vida escolar e como parte do processo educacional. Apesar de não possuir a quantidade de profissionais necessários para atender às demandas de escolas do país, o diálogo e até mesmo a cooperação dos professores são importantes. Assim como a regulamentação de técnicos em Biblioteconomia como uma força a mais, mesmo que essa discussão ainda esteja pautada de forma equivocada na reserva de mercado. Acredito que a atuação profissional da nova geração de bibliotecários também é um diferencial, temos belos exemplos de iniciativas dessa nova leva de profissionais.


 As opiniões dos entrevistados da Monitoria Científica não refletem necessariamente a posição da instituição.

Comentários

  1. Parabéns ao Rodolfo pelas belas palavras e parabéns para a equipe da Monitoria Científica pela iniciativa de construir mais este espaço de discussão. Me parece que se desenha um amadurecimento entre os bibliotecários...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada pela participação, professor Francisco, este é um canal de aprendizagem e compartilhamento de ideais e práticas na nossa área e áreas correlatas.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Encerramento do projeto

  Este post é uma despedida do projeto Monitoria Científica, nestes 12 anos passaram muitas alunas e alunos do curso de Biblioteconomia que hoje estão atuando profissionalmente (e com muito destaque) na área. Todas e todos que aqui passaram puderam deixar a sua marca no blog e nas demais redes sociais. Não podemos nos esquecer de todo o apoio, idealização e contribuições da professora Valéria Valls. Nossa professora, amiga e parceira fundamental para o alcance e sucesso deste projeto. Daqui em diante, o blog da Monitoria será um singelo "repositório" das ações e divulgações e não contará com atualizações. Sendo assim, você que seguia o perfil da Monitoria Científica Fabci - Fespsp (2010-2022) está convidado(a) a conhecer o BiblioExtensão - espaço dedicado à divulgação de projetos e atividades de pesquisa e extensão de cursos de Biblioteconomia voltadas ao relacionamento com a comunidade. A ideia é conhecer e refletir sobre como o curso de Biblioteconomia pode impactar positiv

Keep calm que as férias estão chegando...

É com muita alegria e saudade no coração que informo que este é nosso último boletim de 2015... sabe o que isso significa? As férias chegaram!!! Mas calma ano que vem tem mais! Em 2016 teremos um novo Monitor, que com certeza virá cheio de ideias legais e projetos maravilhosos. Esta pessoa ainda está sendo escolhida, e logo mais, haverá divulgação, por isso não deixe de acompanhar a Monitoria Científica nas redes sociais. Esse foi um ano bem puxado, cheio de conteúdo e de festividades né... Teve CBBD, aniversário de 75 da Biblioteconomia na FESPSP, Jubileu de Ouro da regulamentação da profissão de Bibliotecário... Mas ano que vem, também será um ano bem movimentado, então é bom aproveitar as férias e recarregar as energias. Aos colegas que se formaram: Parabéns! Sucesso em suas escolhas! Aos colegas que ainda estão por aqui: Força e Foco! Estamos quase lá... Não posso deixar de agradecer aos meus queridos voluntários, o sucesso do projeto também depende da participação

O que eles disseram? 5 citações sobre bibliotecas.

O  dia  dos  namorados  foi semana passada, mas que tal aproveitar o clima de romance e ler como algumas mentes brilhantes declararam seu amor por suas bibliotecas? O blog Librarianship Studies & Information Technology fez um compilado das 33 melhores citações sobre o assunto, e aqui nós colocamos as nossas 5 favoritas. 1. O trunfo mais importante da biblioteca vai para casa todas as noite - os funcionários. --Timothy Healy (1923-1992. Ex-Presidente, New York Public Library) 2. Bibliotecas ruins constroem coleções, boas bibliotecas oferecem serviços, e ótimas bibliotecas formam comunidades. --R. David Lankes   (Professor e Diretor da School of Library & Information Science na University of South Carolina, e ganhador do prêmio  Ken Haycock Award da American Library Association’s em 2016 por Promovera Biblioteconomia) 3. Bibliotecas guardam a energia que move a imaginação. Elas abrem janelas para o mundo e nos inspiram a explorar e